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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Cartografía

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

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Ano 5 - Edição 57

Recife, 18 de janeiro de 2011



FIAT LUX

Jorge Jatobá*



Para os veteranos Fiat Lux era uma marca de fósforos, objeto que se tornou obsoleto com o surgimento dos isqueiros, e dos acendedores e equipamentos elétricos. Um caso clássico em que um bem era associado ao nome fantasia. Quando se pensava em fósforo, pensava-se em Fiat Lux. Teria obtido o prêmio de recall de marcas se ele, então, existisse. Para os letrados Fiat Lux, frase latina, retirada do original do Livro do Gênesis, significa “Faça-se a Luz”, ordem divina para consumar o ato da criação, do desenho inteligente objeto de controvérsia entre ateus e deístas, entre cientistas e teólogos, entre crentes e céticos. Questão secular, eterna, enraizada nos mistérios da origem da vida e da morte.





No Pernambuco contemporâneo, Fiat Lux tem a conotação de Fiat FIAT (Faça-se a FIAT) que deverá surgir no cenário econômico do Estado nos próximos anos como a primeira montadora de veículos a se instalar no nosso território. Objeto de muita celebração, a FIAT não vem ao Estado apenas como desejo político de governantes, uma manifestação concreta de uma vontade governamental. Ela virá por uma decisão estratégica da empresa-tomada em Turim- para ganhar novos mercados aqui e lá fora. Para essa decisão de investimento, contribuiu a logística de Suape- produto do esforço de muitos governantes-, a concessão de incentivos fiscais dentro do Regime Automotivo do Norte e Nordeste a cessão gratuita de terreno para a instalação do empreendimento, dentre outras benesses vinculadas ao ICMS. Portanto, “Faça-se a FIAT” não é manifestação de uma vontade divina ou governamental, mas de uma empresa multinacional que á luz de oportunidades econômicas e de consolidação de mercados decide instalar-se no Estado apoiada por políticas de desenvolvimento, por infra-estrutura adequada e por um ambiente favorável aos negócios. Há quinze anos atrás tal decisão não se consumaria mesmo que ardentemente desejada por todos os governantes.



Uma montadora é intensiva em capital. Isoladamente gera poucos empregos diretos porque é altamente mecanizada e computadorizada, inclusive com uso da moderna robótica e de outros equipamentos inteligentes em que o modo de operar concebido como processo de trabalho em linha de produção é construído fora da fábrica, nos laboratórios de pesquisa e de informática localizados fora do Estado, da região ou do país. A mão de obra exigida é qualificada não tanto pela complexidade da operação mas pela necessidade de entender como os equipamentos funcionam e pelo alto grau de confiança exigido para operar instalações e instrumentos inteligentes.



O maior impacto sobre o emprego e o valor agregado que decorre da construção de uma montadora é o complexo sistema de compras para trás (downstream), ou seja, a jusante da unidade fabril. Processos produtivos modernos como “just in time” ou equivalentes dispensam estoques e exigem a presença próxima e imediata de fornecedores de peças e componentes que compreendem chapas de aço, material plástico, motores, pneus, componentes de vidro, etc., enfim um conjunto numeroso de partes que convenientemente encaixadas conforme um quebra-cabeça faz surgir um veículo a partir de um desenho concebido pelos engenheiros industriais.



Portanto, a montadora traz consigo uma cadeia produtiva capaz de gerar milhares de empregos e de agregar muito valor ao investimento principal. O complexo sistema de fornecimento de peças e componentes para abastecer a tempo a linha de produção de veículos é o mais importante efeito decorrente da instalação de uma planta montadora. A linha de montagem receberá de dezenas de fornecedores as partes cuja produção trará emprego e renda para a economia estadual . A construção da cadeia automotiva a partir da planta da FIAT constituí-se no ganho estratégico para internalizar renda e emprego, transformando progresso econômico em avanço social. Assim, Fiat FIAT.



*Jorge Jatobá é Economista e Sócio da CEPLAN





Fonte: Revista Algomais / Ano 5 / Nº 58 / Janeiro de 2011